A construção da cultura do pertencimento

 

 

Uma cidade, uma região ou um bairro sempre nasce a partir de uma referência geográfica ou cultural que caracteriza seu nome. No passado, Araguari, antes de se elevar a cidade, surgia a partir de um córrego que separava suas “duas bandas” topográficas.

“(...) Entre as duas bandas naturaes havia um brejal no meio do caminho, cabeceira de um córrego, que dividia a cidade (...)”. Citação do Jornal O Triângulo de 01/01/1941.

Esse córrego deu origem à vila que recebeu o nome de Brejo Alegre em 31 de março de 1884. Assim se justificava o nome em virtude da referência geográfica a que pertencia seu genius loci.

Mais tarde, a Vila se emancipa e se torna Cidade por meio da Lei nº 3591 de 28 de agosto de 1888, passando a se denominar Araguari. Acredita-se que o nome da cidade faz referência à população de periquitos existente na localidade.

Araguari, em Tupi, ara’guá’ry – ará: arara, papagaio + guá: vale, enseada + r’y: rio, água, significa periquito-maracanã ou rio da terra das araras, ou até mesmo água ou rio da baixada dos papagaios.

O periquito é um símbolo da bandeira da cidade, em alusão à região de sua origem.

O Córrego Brejo Alegre representou a divisão social daquele tempo.

O espaço visual entre as igrejas da Matriz e do Rosário é um dos principais elementos da paisagem urbana da nossa cidade. É um marco cultural e histórico que configura a separação entre as classes sociais no início do século XIX, onde, de um lado (Matriz), os coronéis, donos do poder político e econômico, viviam em seus palacetes, e do outro lado (Rosário), os negros, ex-escravos e colonos manifestavam sua religiosidade e viviam em suas humildes casas. Esta representação histórica merece ser preservada.

Espaço visual entre Igreja Matriz (esquerda) e Rosário (direita)

 

A Região “Dos Verdes”

De acordo com a Lei Complementar n° 215 de 15 de dezembro de 2023 houve a ratificação, retificação de bairros existentes e a criação de novos bairros em Araguari, entre eles o Bairro Brejo Alegre, demarcado entre os Bairros Gran Ville, Cidade Nova, Ipê.

Dentro dessa demarcação, há a nascente do Córrego dos Verdes, que deságua no Córrego do Pica-Pau. Essa região, 'Dos Verdes', é representada pelos bairros Ouro Verde e Parque dos Verdes. 

Fonte: Anexo da Lei Complementar 215/2025

A área em questão, dividida em duas glebas às margens do Córrego dos Verdes, de propriedade histórica de Calimério Pereira de Ávila e Maria Augusta de Resende Ávila, denominada Fazenda dos Verdes ou Fazenda São José dos Verdes, deu origem a diversos loteamentos, entre eles o Portal do Cerrado I (Bairro Jóquei Clube), Portal do Cerrado II (Bairro Ouro Verde), Portal do Cerrado III (Bairro Alvorada); Portal dos Ipês I e II (Bairro Ipês); Granville I e II (Bairro Gran Ville); Cidade Nova I (Bairro Cidade Nova) e Cidade Nova II (ex-Bairro Brejo Alegre).

O Residencial Cidade Nova II faz parte do novo 'Bairro Brejo Alegre', que foi delimitado, praticamente, em toda a área remanescente da Fazenda dos Verdes, ou Fazenda São José dos Verdes. Contudo, a Lei Complementar nº 231/2024, que altera a Lei Complementar nº 215/2023, extingue o Bairro Brejo Alegre e divide sua área. A partir da jusante direita do Córrego dos Verdes, a área passa a pertencer ao Bairro Cidade Nova, e a jusante esquerda do Córrego dos Verdes, passa a pertencer ao Bairro Gran Ville.

Não se sabe o motivo pelo qual, quando da criação do bairro Gran Ville, alteraram seu nome, separando-o, ao invés de adotarem o nome original do Loteamento Granville (tudo junto).

Historicamente, o nome do bairro como “Brejo Alegre” para essa região não traz nenhuma referência à Vila Brejo Alegre, pois se distancia de sua origem: o Córrego Brejo Alegre. Além disso, a população sempre referencia o seu local pelo nome mais popular, reconhecido pela população do lugar. Portanto, o uso de um nome deve ser reconhecido pelos seus moradores, o que valoriza o espírito do lugar, ou seja, seu genius loci.

Nenhum lugar deve ter suas referências mascaradas ou deturpadas, mesmo no caso das homenagens. Isso, quando ocorre, rompe com os laços históricos e culturais. Lembrando que cultura é tudo aquilo que o homem produz e que passa de geração a geração, podendo ser manifestada nos saberes, fazeres, artes, modo de vida e, sobretudo, naquilo que resgata, a cada momento, o sentimento de pertencimento a um determinado lugar ou espaço geográfico. 

 

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